quarta-feira, 6 de outubro de 2010

"A mão que afaga é a mesma que apedreja"

Que paradoxo é este vivido a todo o dia pelo professor?

Vivemos a Era da Informação,  momento em que tudo está ao alcance de todos.
Informações em tempo real, recursos inimagináveis há até 20 anos.
E ao colocar este tempo, parece que está ao longe, num passado distante, afinal são 20 ANOS!!
Mas para quem os viveu nada sentiu, apenas resistiu a muita mudança em “em tão pouco tempo”.
E a educação? Será que podemos classificá-la como nova ou ainda pousa sobre vestígios do passado?
Bom... Para responder a esta pergunta temos que nos respaldar nos acontecimentos presentes.
Vivemos hoje, nas escolas, momentos de muita tensão proporcionados pelas novas “formas” de ensinar. Formar estas que são modeladas pelos programas de ensino e pelos direcionamentos das políticas educacionais.
Antes, o professor era autoridade. Hoje, é funcionário.
Antes, o aluno era o que buscava conhecimento. Hoje, é cliente.
Antes, o conhecimento era essencial. Hoje, é acessório.
Antes, o ensino era transmissão de conhecimento. Hoje, é troca.
Mas troca de quê pelo quê, exatamente?
Troca de serviços? Eu te pago e tu fazes o que eu quero.
Troca de olhares? Se você estiver livre, vamos sair?
Troca de insultos? Você não sabe ensinar!!  Está enrolando!!
Troca de qualquer coisa que não se enquadra em nenhum momento como conhecimento.
Muitas das novas tendências são muito coerentes. Mais ainda: fantásticas. Mas para quem sabe digeri-las como tem que ser.
Novas formas de ensinar: Abaixo a gramática! Viva a adequação e a comunicabilidade!
Então tenho que render homenagens também a problemas de ortografia, de concordância, de regência, de colocação de pronomes, de leitura, de produção de textos.
Resumindo: Palmas para a mediocridade! Palmas para a desinformação! Palmas para a deseducação!
Afinal... De que lado você está? Após anos idealizando um mundo melhor resolve passar o seu tempo fingindo que a educação está melhorando? Após um gasto enorme de livros, de recursos, de tempo, acredita que estão preocupados com você, com o tempo que dedica a uma pré-aula, com o salário que recebe no fim do mês?
A resposta é não. Não para estas e para quaisquer outras perguntas.
Não para a preocupação com o seu tempo.
Não para o valor deste seu tempo.
Não para o que você pensa.
Não para o que você ensina.
Não para o que você é.
“A mão que afaga é a mesma que apedreja”, já dizia Augusto dos Anjos. Todo o esforço realizado por você, professor, só tende a ser reconhecido por você mesmo.
Todo o tempo dedicado à leitura e aos estudos é discernimento sobre a vida.
Todo o dinheiro gasto com livros ou recursos é a certeza de que o possível foi feito.
Todo o tempo perdido planejando, pode ter certeza, refletirá na vida de uma só pessoa: na sua, que dormirá tranquilo sabendo que fez a sua tarefa; que trabalhou em cima de idéias, perseverando uma mudança; e, acima de tudo, que não se corrompeu por uma realidade cruel, falha, repleta de pessoas iludidas e mascaradas.
Há sofrimentos que fazem crescer. Há, também, sofrimentos que te matam aos poucos.
O ofício do professor talvez possa ser considerado um destes, dos que matam e silenciosamente, por não termos a quem clamar por socorro. Por morrermos sozinhos. Cheios de ideais, mas sozinhos.